A adolescência consiste numa fase considerada por muitos, conturbada e conflituosa. As mudanças físicas e psicológicas modificam de uma maneira rápida o cotidiano do adolescente. As novidades, as expectativas e as idealizações deixam o jovem, em grande parte das vezes, confuso e perdido. É comum o adolescente procurar outras pessoas que estejam passando por conflitos semelhantes aos dele, alguém com quem ele se identifique, ou que possa servir como um amparo e companhia para si. Surgem assim, os grupos, pelos quais o adolescente busca consolidar sua identidade, encontrar pessoas para dividir e compartilhar seus pensamentos e sentimentos.
Entendemos por adolescência a etapa que vai dos 12-13 anos até por volta dos 20 anos de idade. É a fase em que não se é mais criança, mas também não pode ser considerado adulto. É como uma preparação para a vida adulta. Segundo o que diz Fierro (1995, p.264), esses jovens estão em fase de transição de um: “[…] apego centrado, em parte, na família para um sistema de apego centrado no grupo de iguais”. Eles sentem que são membros de uma cultura de idade, que tem por características os hábitos, as roupas, os seus valores, o estilo de vida. Esses jovens passam a ter inquietudes e preocupações que são parecidas com as dos adultos, deixando para trás preocupações da infância. Se, para alguns jovens, a fase da adolescência é tormentosa e difícil; para outros, ela é fácil, sem complicações, mesmo que esses tenham problemas. Alguns têm facilidade e outros nem tanto para aceitar essa nova situação. Fase transitória que passa com rapidez, em que se vê a vida com clareza como ela é. É sentir-se alguém, com independência. É o início para o amadurecimento de tudo. Formadora do caráter e opinião consiste, para muitos, em uma fase complicada, abrangendo inúmeras descobertas e traz consigo muitas dúvidas e contradições, tornando a fase mais complexa. Há um querer libertar-se, encontrar-se no mundo, fazer muitas coisas, aflorar muitas ideias. Viver com uma dose de inconsequência nesta busca frenética do conhecer-se.
Fierro (1995) ressalta que nem sempre e nem todas as pessoas conseguem alcançar a independência nessa fase. À chegada ao mundo adulto, as responsabilidades trazidas com isso, juntamente com as dificuldades que vêm com o adolescente na aquisição da própria identidade, podem ampliar de maneira significativa a ambiguidade de independência/dependência que caracteriza essa idade. “A emancipação em relação à família, no entanto, não se produz da mesma maneira em todos os adolescentes. De imediato, as práticas da criação se diferem muito de uma família para outra, não favorecendo da mesma forma a autonomia dos filhos, quando chegam a essa idade” (FIERRO, 1995, p.300). Outro ponto de ênfase destacado por Fierro (1995), associa esse momento como o de maior ocorrência dos atritos familiares. O adolescente passa a se distanciar um pouco do seio familiar, a comunicação entre os mesmos diminui e a distância aparece. A autonomia característica da adolescência, associada com o distanciamento das relações familiares, comum em muitos casos, leva o jovem a desviar-se da comunicação com a família, buscando um relacionamento mais fortalecido, permanente e satisfatório com o grupo de amigos e companheiros. Apesar de a influência que os amigos exercem na vida dos adolescentes se fazer presente, continua sendo notável a influência que os pais têm nos filhos, fazendo-se decisiva nas opções e valores adotados pelos adolescentes. Fierro (1995) considera que no que se refere aos valores e às finalidades primordiais da vida, tanto as influências exercidas pelo grupo, como as exercidas pela família, tendem a um fortalecimento recíproco, complementando as escolhas do adolescente.
“O adolescente, de qualquer maneira, durante toda a etapa, continua tendo uma enorme demanda de afeto e de carinho por parte dos pais, em um grau não inferior ao da infância. Pode mostrar-se intratável e esquivo, diante de algumas manifestações desse carinho, quando os adultos, em seu afeto, adotam ares de superproteção, no entanto o adolescente precisa dele. Fierro (1995) ainda ressalta que as contradições entre os valores que o grupo preza e os valores reforçados pela família, costumam afetar os aspectos superficiais do adolescente, tais como: forma de vestir, preferências e gostos, o estilo geral de vida, porém, não influenciam tanto as opções e valores decisivos. É comum que o adolescente observe mais o critério dos pais do que de seus companheiros, em matérias que se relacionam ao seu futuro. No entanto, seguem os ideais de seus companheiros no que diz respeito às opções sobre o seu presente, à realização de seus desejos e às necessidades atuais. Percebe-se, desse modo, que o adolescente necessita do apoio dos familiares, bem como do grupo de amigos. Embora possa haver um distanciamento do seio familiar na adolescência, a demanda que o jovem busca na família é de tal importância como a requerida pelos amigos. Ambas as relações são fundamentais para a vivência do adolescente. Já os grupos de amigos podem apresentar diferenças entre si, não somente na forma de recrutamento, como na forma de organização, finalidade e objetivos. Porém, todos eles possuem características determinadas.
Os adolescentes esperam dos amigos lealdade, confiança, uma fonte segura de apoio em qualquer crise emocional. Os amigos podem ajudar o jovem a lidar com sentimentos complexos próprios e dos outros. Podem servir como uma espécie de terapia, no sentido de haver uma revelação de sentimentos dos adolescentes que, em outros casos, seriam reprimidos. Proporcionam também uma certeza de que o adolescente não está sozinho naquilo que está passando. A vivência dos pais, em sua própria adolescência, é outro fator contribuinte para o sucesso ou insucesso das relações familiares nessa fase. Quanto a esse aspecto, Outeiral (2003, p. 66) salienta a utilidade de conflitos nessa fase, enfatizando que crises acontecerão e que, às vezes, elas poderão ser úteis, dando nova dimensão às relações, reoxigenando, revitalizando os vínculos familiares. Os pais, à sua maneira, também podem estar enfrentando uma “crise de identidade”. Os pais do adolescente médio estão entrando na meia-idade. No momento em que seus filhos se aproximam do máximo vigor físico, os pais estão frente a frente com o fato de já terem ultrapassado seu próprio máximo de esplendor físico.
Numa sociedade tão obcecada por juventude como a nossa e tão desdenhosa da velhice, a perspectiva pode, às vezes, ser dolorosa” (CONGER, 1980, p.38). A maioria dos jovens avalia seu próprio valor, baseado nas reações de aprovação e do reconhecimento dos companheiros. Esses adolescentes podem deixar-se cair num círculo vicioso, conforme Conger (1980, p. 73) aponta: “Se já tiverem alguma dificuldade emocional, se forem preocupados consigo mesmos e se lhes faltar um autoconceito seguro, provavelmente se defrontarão com a rejeição ou com a indiferença dos companheiros, o que, por sua vez, diminui-lhes ainda mais a autoconfiança e aumenta a sensação de isolamento social”. Ser aceito socialmente é algo desejável, especialmente se a aceitação estiver vinculada com comunhão de interesses e cooperação. Para muitos adolescentes, não participar de nenhum grupo significa o mesmo que estar fora do universo. Os adolescentes esperam, quando estão em grupos, que sua participação lhes promova bem- estar, experiência, emoções, satisfações e companheirismo. Os componentes do grupo, em geral, seguem os seus líderes. Quando estão em grupos, os indivíduos passam a ter as mesmas atitudes, a mesma visão sobre as coisas. Isso pode ser positivo quando, através da convivência com os outros integrantes, desperta-se um relacionamento saudável e tem-se apoio emocional através das experiências vividas pelos demais.
Por outro lado, não só aspectos positivos são postos. O adolescente, por vezes, não teria capacidade de fazer algo se estivesse sozinho: mas, quando em grupo, seria capaz de fazer só para ser aceito pelo mesmo, e essa capacidade de fazer algo que não faria, pode não ser bem – visto. Lacerda (1998, p. 50) exemplifica isso, ao expor comportamentos relacionados com: “[…] acessos de ódio, gestos de brutalidade, atitudes de desconsideração cruel para com as pessoas, ausência de responsabilidade pelos próprios atos”. “Na tentativa de libertar-se do poder dos pais, ou seja, de defender a própria independência, vão atrás de novos líderes que não sejam seus genitores. Ou então, tentam eles mesmos ser os líderes rebeldes que enfrentam a liderança parental”. Estudos apontam que adolescentes que participam de algum grupo restrito têm maior autoestima do que os que não participam de nenhum.
É notória a repercussão que o grupo de adolescentes causa na sociedade de um modo geral, já que está incorporado no meio social. As ações tomadas pelo grupo atingem a sociedade mesmo que de uma maneira indireta; portanto, é necessário salientar que a maneira como esse grupo estará atuando na sociedade, ocasionará consequências marcantes para ambos os lados. Uma sociedade preparada suficientemente para proceder diante de um grupo de adolescentes, terá como resultados uma colaboração mútua para a solidificação da maturidade adolescente, bem como um convívio social mais harmonioso com aqueles que, segundo já o foi mistificado, representam os indivíduos de convivência mais desafiadora. O adolescente, por seu lado, sentindo o apoio e espaço que a sociedade lhe oferece, tenderá a crescer e a fortalecer-se cognitivamente, podendo contribuir para a construção de um meio social mais cidadão, justo e equilibrado.
Raquel Guzella de Camargo (Texto adaptado pelo S.O.E)